Observações da escritora e artista visual TELMA SCHERER sobre
“Engole esse choro”:
“O teu livro tem um charme todo especial para a minha
geração por mostrar as coisas dos anos 70, esse ambiente que pra gente é tão
sonhado e fez a nossa cabeça, como referência. A vestimenta do Voltaire, a
Mirinda, tem muitos detalhes de caracterização que encantam a gente, até os
tecidos das roupas, são detalhes que brilham.
Um livro muito bem estruturado, uma narrativa incrível, bota o dedo na ferida.
Esse teu romance desde o momento na
roda-gigante fisga a gente para dentro do livro. A gente fica seduzida, é muito
envolvente, com várias questões de mistérios, emoções fortes. A linguagem é
leve e a gente brinca junto com Eleonora. E vai descobrindo as coisas com ela.
Um livro que vem a tona num momento certo.”
CARTAS:
“Eu pessoalmente acho que as cartas inserem mais
polifonia no teu romance. Estão super bem produzidas, a gente percebe cada
autor delas de um jeito íntegro. Cada uma com a linguagem bem característica,
com a personagem-autor super bem caracterizado.
E as cartas também se inserem naquele momento histórico,
de um modo muito preciso elas mostram como as coisas aconteciam naquele
momento. Então não acho que se possa fazer uma crítica a elas, não. Do meu
ponto de vista, elas são um ponto alto.
Dá muito nojo do guri, mas, ao mesmo tempo, a gente
percebe ele como fruto daquela sociedade.
A amizade com o Frei, também! Como ele tenta esclarecer as coisas para ela, percebendo a sensibilidade que ela tem, como é esperta para as coisas.”
PERSONAGENS:
“Fiquei muito tocada pela professora de artes. Nossa. É
um dos pontos altos do livro.
Também a conversa dela com Voltaire. É um momento de
clímax.
O pai tem posturas tão escorregadias... A gente fica
torcendo muito pra que ele se revele alguém com uma sensibilidade maior para as
questões da formação política da filha. Ele é bem fdp, mas inicialmente não
parece, quando conversa com adultos, ser tão fdp quanto é. Eu acho que isso dá
consistência à personagem. Quando a menina sabe que o pai da colega vai ser
preso, p.ex., esse é um ponto algo. A gente sabe que o cara alcaguetou. Enfim,
não sei se fiz a leitura correta, mas foi o que me pareceu.
A coisa da primeira pessoa, no hospício, eu só percebi
que era a Eleonora no final! A coisa da filha bastarda que trabalha na casa do
pai, nossa! É bem impactante.”
EDIÇÃO:
“O livro é lindo! O livro está bem editado, isso que
importa!
Acho que ele precisa chegar às pessoas e ser lido, porque
é um livro necessário.
Parabéns, Laura, grande romance sobre o lado obscuro do
país durante a ditadura.”
TELMA SCHERER é professora de literatura brasileira na
Universidade Federal de Santa Catarina.
Autora:
*Desconjunto - Instituto Estadual do Livro/RS,
Coleção 2000, poesia, lançado em 2002
*Rumor da casa - Editora 7 Letras, Fumproarte, poesia, lançado em 2008
*Depois da água - Editora Nave, Prêmio Elisabete Anderle, poesia, 2014
*Entre o vento e o peso da página - editora Medusa, poesia expandida/livro
de artista, 2018
*Lugares ogros - Caiaponte edições, narrativa, 2019
*O sono de Cronos - Terra Redonda, poesia, 2019
*Squirt - Terra Redonda, poesia, 2019.
*Não alimente a escritora, poesia, 2021.
*As Avessas, romance, 2021.
O tema do romance não poderia ser mais espinhoso e coloca
todos os dedos na ferida do silenciamento dos abusos e violências da época da
ditadura.
A ação está centrada em 1974 e Eleonora tem apenas 13 anos
de idade. Ela testemunha várias ocorrências de perseguição a moradores de
Lacônia do Sul que são acusados de comunistas.
Todo esse cenário escabroso é narrado com um ritmo muito
vívido, leve e colorido. A amarração narrativa garante surpresas incríveis no
final.
Misto de jornalismo e ficção, o livro é fruto de muita
pesquisa. As questões culturais, as questões de gênero, o papel da igreja, dos
professores e estudantes naquele contexto estão muito bem colocados.
Um texto necessário e que dá uma ideia precisa a respeito do
modo como os crimes do terrorismo de estado foram vivenciados (e silenciados)
no interior.
A autora financiou a edição, adicionem a Laura e comprem o livro dela. Eu fui fisgada já na cena de abertura, e essa leitura proporcionou-me uma visita a uma Lajeado que não conheci, mas cujos ecos com certeza me constituem.”
Disponível nas livrarias: Cometa Livraria e Papelaria, Livraria Vitrola, em Lajeado. Bamboletras, Porto Alegre. Navegar, em Garopaba.